Passei um tempo sozinha

Passei um tempo sozinha, pensei que de solidão eu morreria, que mentira. 
É tão maravilhoso ser só minha.
Olhei-me no espelho, percebi um fio branco, é a idade me mostrando que as marcas da vida são necessárias para tecer os pontos que vão nos sustentar nos próximos anos. 
E que é necessário fazê-los firmes. 
Fortes. 
E por isso algumas vezes será imprescindível ser um pouco bruta.
O tempo empurra para o abismo tudo aquilo que é mediano, efêmero. 
Já não colecionamos cacarecos, já não queremos muitos trecos. 
Queremos só leveza, e isso vale pra mala de mão e para o coração.
Passei um tempo sozinha e é verdade, muitas vezes a saudade invadia-me como se quisesse arrancar todos os órgãos com as mãos, e eu morreria. 
Quem diria... até essa sabedoria a idade em maestria vem nos entregar. 
E a gente já não morre não. 
Olhei para as aventuras, e hoje mais madura, sei que nem tudo é para mim, e ainda bem. A maturidade nos poda na medida certa e a gente fica mais esperta sobre o que não precisamos, e não queremos fazer, só porque os outros fazem, e tá tudo bem. 
A solidão encarada de frente é para aqueles que não têm medo de se pertencer por completo. 
E mais ainda, para aqueles que se confrontam e deixam emergir suas melhores e piores verdades. 
Para os outros a solidão é forca, martírio... 
São esses medrosos que a preenchem de qualquer maneira só pelo medo de encarar-se de frente. 
Pois a solidão nos entrega tudo e nos entrega a gente. 
Passei um tempo sozinha, e nessa nobre companhia descobri que posso e devo ser minha, mesmo sendo um pouco de outro alguém. 
Passei um tempo sozinha, descobri que de verdade mesmo, do início ao fim, somos todos sozinhos. 
As outras criaturas estão sempre de passagem, em algum momento a gente vai ou eles se vão, e a gente só aprende isso quando se encara sozinha e ainda assim consegue ficar bem.


Foto: @antesnuadoquesua

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